O título era esse e a mensagem começava assim:
Mariana, minha caçula, ou simplesmente Mari, tem 27 anos, é casada, formada em Direito e trabalha como assessora na Procuradoria do Estado em Santa Cruz do Sul. Ela teve uma recidiva da leucemia que a acometeu no início do ano passado, está internada no Hospital Mãe de Deus e precisa de um transplante de medula óssea. A má notícia é que, fora do âmbito familiar, a probabilidade de encontrar um doador compatível é de uma em 100 mil. A boa, é que este doador existe em algum lugar e nós vamos encontrá-lo.
No final da tarde de domingo, 29 de agosto, o colega Breno Brasil Cuervo lançava, nas pastas públicas dos magistrados do Rio Grande do Sul, a senha desafiadora de uma grande operação de solidariedade, para a qual estamos todos convocados.
Em seguida, os colegas Gerson Martins da Silva, Fernando Vieira dos Santos e Juliano Rossi se manifestaram e sugeriram que se fizesse, no Curso de Atualização de Magistrados, dos dias 1º a 3 de setembro, um cadastramento de doadores em unidade móvel a ser levada para a Escola da Magistratura. Pouco depois, Carlos Eduardo Richinitti informava que o ônibus onde se fazia a coleta estaria na Expointer nesses dias e sugeria que se buscasse um micro-ônibus para conduzir os colegas ao próprio Hemocentro.
Breno reservou cem atendimentos para os dias 1 e 2, o Tribunal de Justiça cedeu o ônibus, mas havia no ar um clima de ceticismo: não era esperar demais que juízes vindos de diversas comarcas do Estado se dispusessem a perder os pequenos intervalos do curso para irem de ônibus até o Partenon e lá coletarem sangue para o cadastro de doadores?
Pois o ceticismo era infundado: mais de sessenta juízes e funcionários da Ajuris e da Escola da Magistratura se deslocaram de ônibus para o Hemocentro; contabilizadas também as pessoas que compareceram individualmente ao local, pronunciando o nome de Mariana, o número ultrapassou os cem em dois dias. Outros tantos foram aos bancos da Santa Casa e do Hospital de Clínicas.
Enquanto isso, quase 3% da população de Santa Cruz compareceu, em dia de muita chuva, à unidade móvel que foi à cidade por iniciativa da família e amigos de Mari. Já há mobilização semelhante em Venâncio Aires e Rio Pardo. Em Porto Alegre, juízes e servidores do Foro do Partenon igualmente organizam uma ida ao Hemocentro.
Antes, ainda na terça-feira, 31 de agosto, os juízes e funcionários do Fórum de Carazinho, ao saberem da campanha, foram até a unidade móvel do Hemocentro de Passo Fundo, que estava na cidade e, no dia, cadastrou mais de 300 doadores.
Recém iniciada, a campanha já obteve a adesão da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) e de várias associações estaduais de magistrados. Começa também a repercutir na imprensa e Mariana recebe mensagens de apoio de diferentes lugares do Brasil.
Mas a luta recém inicia. A meta são cem mil doadores; a meta é um doador para Mariana. Como diz o cartaz de campanha, Minha cura pode estar em você. Mas a cura não é só de Mari, a solidariedade não é só para Mari: Mari é o nome e o rosto da nossa solidariedade, mas o cadastramento de cada um de nós representa também uma resposta solidária à esperança de tantas outras Maris que aguardam pela medula escondida.
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Escrevi este artigo para servir de editorial no Jornal da AJURIS de julho/agosto de 2010. Também foi publicado no Jornal O Sul, edição de 4 de outubro de 2010. Lembrei dele hoje, ao ouvir notícia sobre aula-show sobre doação de órgãos e tecidos que ocorrerá nesta quarta-feira, 30, às 19 horas, na Sarmento Leite, 253, numa iniciativa da Fundação Ecarta, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e Unimed, em que a música ficará a cargo de Los 3 Plantados (Bebeto Alves, King Jim e Jimi Joe). O evento é por conta do Projeto Cultura Doadora.
A campanha Somos todos Mari aconteceu há cinco anos e infelizmente não foi suficiente para salvar a vida de Mariana, mas despertou a consciência de muitos para a doação de órgãos. Escrevo também porque daqui a uma semana, 6 de outubro, será o Dia Nacional do Doador de Medula Óssea.
O saite da Ecarta dá orientações a quem quer se tornar doador. Há cadastros para se inscrever como doador (um deles é o da campanha Doar é Legal, parceria do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul com o CNJ), mas é necessário que a família do doador saiba dessa disposição. Quem deseja se tornar doador de medula óssea deve dirigir-se a um hemocentro, para se cadastrar no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea – REDOME.
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