Minha mensagem para 2016 é uma foto. Foto de um instante de olhar correspondido. Alguns segundos até abrir o sinal: no próximo vermelho, a bebê estará longe e o menino seguirá seu inseguro malabarismo, para ganhar poucas moedas entremeadas de muitas carrancas.
Mas a imagem é a deste exato momento, no qual a janela fechada não impede a comunhão entre duas almas que não se reencontrarão.
Não consigo imaginar o futuro da menininha, porque as possibilidades são infinitas. O futuro do menino é previsível. Logo, logo, receberá de presente a redução de maioridade penal, e fará jus a ela com pequenos furtos a venda de umas pedras e um caminho sem esperança. Não vejo seu rosto novamente estampado de um sorriso afetuoso.
A foto é o nonsense, o que não existe, o intervalo instantâneo capturado por um clique e desvanecido no momento seguinte, quando o sinal verde acendeu e a vida voltou ao seu curso.
Nossa simpatia pelo menino também termina por aqui. Talvez a foto nos agrida, talvez nos entristeça, talvez nos compadeça, mas o menino seguirá na sinaleira. Hoje ele, amanhã outro. E a vida seguirá. Em poucos anos, não mais será um menino, e desejaremos a ele a prisão.
Não, não quero estragar as alegrias natalinas de ninguém, estou apenas falando do nosso mundo e dos nossos corações. Nossos corações sabem ser bondosos, e depois da foto até teríamos dado ao menino mais que algumas moedas. Mas não o teríamos tirado de lá.
É isso: não o tiramos de lá. O tiraremos depois, mas para lugares piores. Talvez nos falte o olhar que a bebezinha lhe dirigiu, mas ela não fala e não muda o mundo.
Por isso, só o que posso desejar é que nós, que podemos mudar o mundo, saibamos responder ao sorriso do menino com aquele olhar.
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A foto é de Zé Brito e a retirei de Brasileiríssimos.
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