Seis, este é o número. Como cheguei a ele? Pois aconteceu comigo como acontece com todo mundo nas redes sociais: um dia você deixa de seguir quem foi mal educado, outro dia quem só fala abobrinha, depois quem tem interesses destoantes dos seus, e assim vai filtrando o que vê.
Alguns dizem mesmo que essa possibilidade oferecida pelas redes dificulta o diálogo e a tolerância, porque cristaliza posições e te faz conversar só com os iguais. Não sei se é isso, o fato é que, como não acontecia antes, hoje somos diretamente interpelados pela telinha, que parece uma extensão dos nossos olhos. É como se cada uma dessas pessoas que você vê estivesse aí, na sua casa.
Então, como todo mundo, fui fazendo uma faxina. Na surdina, sem anunciar a ninguém, deixei de seguir muita gente. Pouco desfiz amizades, apenas deixava de ver o que escreviam.
E também, como para todo mundo, esse último período foi rico para a limpeza, porque a alta voltagem política e o grau de intolerância que a acompanhou foi uma fonte inesgotável de cortes. E isso que meu critério nem ao menos foi o de separar o mundo em amigos e inimigos, mas seguir exatamente aqueles critérios de me afastar dos mal educados, dos raivosos e também daqueles que, de ambos os lados, compartilhavam notícias requentadas ou inverossímeis e se compraziam em agredir o outro lado com imputações injuriosas.
Procurei manter os que transitavam pelos dois lados, ora criticando um ora outro, porque esses, embora às vezes pequem pelo apreço ao muro, são bons de diálogo, dificilmente agridem e na sua maior parte conseguem fazer leituras críticas que servem de termômetro a nós próprios.
Mas o fato é que, como deve ter acontecido com tantos, e de modo quase automático, acabei por me ver na companhia de quem pensa parecido e apartado de quem pensa diferente. Claro, não era pouca coisa: eu falava de democracia, de defesa das instituições e das regras do jogo e, num outro plano, pensava também na defesa de programas sociais, que sabia em risco; do outro lado, ouvia o discurso monocórdio da corrupção atribuída somente a um dos lados e muitas vezes a fala paranoica do comunismo e bolivarianismo. Assim, aquele clique se tornou quase inevitável.
Mesmo assim, alguns que, pelos critérios que adotei, deveriam ter sido cortados, continuavam a teimosamente aparecer no meu monitor, e eu nada fazia.
É desses seis – os contei hoje – que quero falar. Nenhum deles é meu familiar ou amigo pessoal, e por isso não atribuo a qualquer motivo especial o fato de terem permanecido ali. Foi mesmo o acaso, a falta de clique na hora certa.
De qualquer maneira – isso também constatei –, têm em comum uma certa capacidade crítica, que os impede de serem presa fácil de qualquer discurso. Talvez de algum modo seja esse o motivo para terem permanecido: não os incluo no exército dos sem noção.
Mesmo assim, estavam todos sinceramente engajados na luta pelo impeachment e contra a corrupção. Sim, era assim mesmo que pensavam, com toda sua pretensão crítica: com o impeachment acabaria a corrupção. Ou, para ser mais justo com eles: o impeachment seria o primeiro e importante passo para que a corrupção acabasse no Brasil.
Pois, não lembro bem quando, mas acho que foi logo depois da votação da Câmara, aquela em nome de Deus, da mulher, dos filhos, de não sei o que mais, que vi dois deles escreverem coisas um pouco destoantes. Resumindo, o primeiro disse que era a favor do impeachment mas que nosso parlamento era deprimente; o segundo pela primeira vez declarou que não era coxinha nem petralha, apenas queria acabar com a corrupção.
Ali vi dois movimentos, ainda tímidos, de desembarque. Tímidos e inócuos, porque haviam feito seu serviço e desviado sua água para aquele moinho.
Mas não escrevo agora para responsabilizar ninguém, escrevo só para falar da minha pesquisa particular. Depois daquelas duas manifestações, não cheguei mais a ver publicações dessas pessoas, ao menos nada que me chamasse a atenção.
Pois hoje resolvi pesquisar, para ver o que os seis vêm escrevendo. Me ative aos últimos dez dias. Um deles tem compartilhado vídeos sobre maravilhas da natureza, um manda fotos da família, outro fotos de cães e gatos, o quarto dos seus jantares e dos almoços dominicais, o quinto compartilha conselhos orientais sobre sabedoria e felicidade. Já o sexto tem estado em silêncio.
São só seis, meia dúzia. Não vejo aí relevância estatística, e me limito a fazer este despretensioso comentário.
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