Quem é assassino?

O desembargador decidiu que Marcelo D2 não pode chamar Doria de assassino. Há um ano, Doria disse que a polícia atiraria para matar. Foi uma fala até comedida, porque na mesma época Witzel, aquele que comemora a morte como se fosse um gol, disse que a polícia miraria na cabecinha.

O fato é que a polícia de São Paulo segue a do Rio como máquina de matar. Máquina de matar negros, pobres e favelados.

Quando matar é política pública, quem é o assassino?

Certa feita, Bolsonaro disse numa entrevista que, para melhorar o Brasil, tinha que matar uns 30 mil. Há quem até hoje considere bravata, assim como considera bravata a ameaça, proferida no seu comício final, de mandar os fiscais ambientais para a ponta da praia, lugar onde os órgãos de repressão da ditadura executavam opositores. Pergunto: não há, em 2019, mortes para serem incluídas nessa contabilidade tétrica?

Bolsonaro, que sempre defendeu os milicianos e é vizinho de milicianos (quem mandou matar Marielle?), também prometeu, num comício do Acre, fuzilar a petralhada.

Fiscais ambientais e Acre lembram Amazônia. A Amazônia queimada e desmatada, a Amazônia em que os indígenas não teriam um metro a mais de terra, em que o IBAMA e o Instituto Chico Mendes foram impedidos de agir e tiveram sedes queimadas, esta mesma Amazônia em que agora uma Medida Provisória autoriza a regularização de áreas griladas e desmatadas.

Pois é nesta Amazônia, em que a polícia acusa ambientalistas de prenderem fogo na mata e um juiz os prende, que hoje os índios guajajaras estão sendo assassinados por protegerem a floresta. Quem são os assassinos? Quem permite que haja esses assassinatos?

Quando penso nisso, minha memória retorna a palavras trocadas com uma pessoa – esclarecida, diga-se – no dia seguinte à eleição de 2018. Eu poderia ter lhe respondido tanta coisa depois de ela me revelar seu voto, mas, das inúmeras perversidades então anunciadas, lembrei de dizer que destruiriam a Amazônia e matariam os índios. Acrescentei: vai morrer muita gente. E ela: eu sei.

Ela sabia. Todos sabíamos. Eles fariam isso. A política deles era esta.

Quem pode ser chamado de assassino? A quem podemos acusar?

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