Nove da noite, Sidinei passeia tranquilamente pela calçada da Venâncio, depois dum chopinho no Bar do Beto, quando é subitamente cercado por três indivíduos. Antes de ser anunciado o assalto, ocorre o inusitado: “é o Dr. Sidinei”, exclama um deles. E vão embora, não sem antes esboçarem um “foi mal”.
A história me foi contada há anos, e talvez minha memória falha tenha alterado algum detalhe, mas foi mais ou menos assim. Lhe pedi hoje que recordasse o fato, e ele respondeu que aconteceu mais de uma vez.
Sidinei Brzuska é um velho cadeeiro: seguramente dedicou mais de vinte anos de sua vida às varas de execução penal e, nelas, a visitas quase diárias aos presídios.
Eu, que me deprimi em algumas idas ao antigo Presídio Central, do qual minha lembrança mais vívida é o azedo que penetrava nas narinas e parecia entranhar nas roupas, sempre admirei essa sua vocação para, ingressando nesses espaços insalubres, cuidar dos seres estigmatizados que ali vivem.
Sidinei é também um contador de histórias, mas, ao contrário dos ficcionistas, que criam seus personagens, apresenta personagens de carne e osso. E alma.
Seu livro Prisões é um pequeno retrato dessa vida dedicada aos apenados, que se revelam humanos, lá onde a sociedade apenas vê criminosos, e buscam frestas de esperança, lá onde todas as portas lhes foram fechadas.
Ao ler o livro, compreende-se o que o segurou por tanto tempo nesse trabalho. E é ele próprio que diz, ao relatar o encontro casual com uma senhora idosa, que carregava em sua carteira uma foto antiga de um juiz que ajudou muito seu filho no passado: “aquele papelzinho me fez ficar por mais alguns anos”.
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O livro não está nas livrarias, mas pode ser pedido ao próprio Sidinei, clicando aqui.
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