Paisagem com chuva II

4 de agosto, domingo. Chove, como choveu no sábado, 13 de abril.

Revisito a paisagem.

O gramado está aí, sem cor, obra do inverno.

Nele já não se vê a roseira: tornou ao pó. A lembrança permanece.

Seguem os pés de guabiju, guabiroba, jabuticaba e araçá amarelo. Atrás deste (esqueci de mencionar em abril), o araçá vermelho. A jabuticabeira, antes animada, sofreu o golpe anual da geada, mas a primavera a encontrará maior que há um ano.

A estradinha, que pavimentei: pau, pedra, fim do caminho.

O outro gramado, o do estacionamento, também descolorido pelo inverno, está mais ralo. O barro foi produzido pelo trator que afunda seu piso: é o custo de derrubar o eucalipto, obra que não está na foto. Talvez um olhar mais arguto revele as duas saracuras, que ali forrageiam.

As placas seguem ilegíveis, um dia serão trocadas.

A mata ciliar da esquerda ilustra o significado da palavra semidecidual.

No ângulo das placas, atrás da demarcação do estacionamento, a cicatriz do calcário, que removemos para que a mata avance, recuperando-se do desbarranqueamento. Por ora, um ou outro capim.

A aroeira periquita sumiu no meio do vassoural; o fumo-bravo não sumiu, mas está encolhido pelas vassouras.

O jerivá do Ivan mostra mais uma folha: já quase não se percebe que veio careca.

A beira da estrada segue parecendo um capoeiral, aguardando o dia em que formará o túnel verde.

Ao fundo, como antes, eucaliptos. Muitos, por todos os lados. Os únicos que sumiram não estão no ângulo da foto: são os que darão lugar à vegetação nativa, no caminho para a cachoeira.

Agora chove menos, e o Cerro da Fortaleza pode ser visto, não apenas imaginado.

A trilha sonora está mais modesta: só a chuva no telhado; os pássaros, que ontem chamavam a primavera, estão mudos. Bem agora um arapaçu grande quebra o silêncio das aves.

A chuva é de inverno. De inverno é a paisagem. Mas tenho visto os primeiros brotos: o ciclo segue em espiral.

Em abril, fiz pós-escritos. Minha consciência me obriga a manter aquele em que disse não poder calar sobre o genocídio que Israel pratica, sob a bênção do Ocidente Democrático.

Em 13 de abril escrevi Paisagem com chuva.

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Uma resposta

  1. Avatar de Adriana
    Adriana

    Como foi gostoso de ler e sentir essa experiencia sensorial…não fosse a lembrança de Israel, diria que fui a um paraiso…muito legal o que tens feito, com teu “pedaço de terra” e com teu “pedaço de consciência” sobre a Terra. Feliz por haver sobre a Terra seres como você!

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