Há anos os cientistas debatem sobre os motivos do misterioso fim da civilização maia. Sabemos bem como pereceram os outros povos americanos, dizimados e escravizados pelo conquistador europeu, mas os maias entraram em decadência séculos antes, abandonando suas cidades portentosas, sua ciência, sua astronomia, sua escrita.
Sabe-se hoje de uma mudança climática, que impôs longo tempo de secas, gerando fome, guerra, despovoação e final abandono das cidades. Tais secas ocorreram após período igualmente longo de clima benigno, em que as colheitas eram fartas e a população cresceu, permitindo o florescimento da civilização. Mas, com o desenvolvimento, também uma exploração intensiva da natureza e um desmatamento das florestas.
Os maias eram uma civilização avançada, mas seus conhecimentos evidentemente não lhes permitiam prever a possibilidade de virem a sucumbir por conta de eventos climáticos, potencializados por sua ação destruidora.
Não é o que acontece hoje: chegamos a um desenvolvimento tal da ciência, que é possível estabelecermos prognósticos razoavelmente seguros sobre um iminente desastre climático, que não ficará circunscrito a uma pequena região da América Central, mas terá escala planetária. À exceção da direita mais delirante, que insiste em dizer que todos os avisos até agora dados são falsos, o mundo sabe o que está acontecendo.
Os avisos se repetem. Em 13 de novembro, foi divulgado na Revista BioScience o documento intitulado Advertência dos cientistas do mundo à humanidade: um segundo aviso, assinado por mais de 15 mil cientistas de todo o mundo. É segundo aviso, porque faz referência a texto semelhante, divulgado há 25 anos na Eco 92, realizada no Rio de Janeiro.
O trágico é que não existe novidade no documento de agora: vários indicadores (superpopulação, aumento de emissão de CO2, destruição do ambiente natural, aquecimento global) apontam a exaustão do planeta e seu iminente colapso. Por isso, o texto termina com a advertência: “Logo será tarde demais para mudar o curso de nossa trajetória de fracasso e o tempo está se esgotando. Devemos reconhecer, em nossa vida cotidiana e em nossas instituições de governo, que a Terra, com toda a sua vida, é nosso único lar.”
A advertência mostra que a diferença entre nós e os maias não está só no fato de que eles não sabiam o que aconteceria, mas também na amplitude do desastre anunciado: eles abandonaram sua civilização e seguiram a vida em regiões não devastadas; nós não temos para onde ir, porque o colapso que alegremente estamos gerando será planetário.
É impossível adivinhar a dimensão do que acontecerá. Stephen Hawking propõe viagens interplanetárias. Talvez antes mesmo de isso se tornar possível, uma população reduzidíssima – os ricos do planeta – continue uma vida de sonhos em bolhas de prosperidade numa Terra devastada, incapaz de abrigar bilhões de humanos.
Há alguns milhares de anos, na mesma época em que viviam os últimos neandertales, nossos ancestrais europeus extinguiram os mamutes, fonte de carne em período de escassez alimentar. Ao que parece, a extinção foi potencializada pela descoberta de uma forma mais eficaz de caça: a de encurralar manadas inteiras diante de precipícios, em que morriam dezenas de espécimes, embora a carne de dois ou três fosse suficiente para matar a fome dos sapiens.
Desde que nos tornamos dominantes no planeta, nunca mais paramos de causar a extinção de outras espécies. Agora, cada vez mais acelerando a extinção, estamos nós próprios, numa imensa manada, prestes a nos jogar ao precipício.
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