O tempo passa e a gente com ele, mas, como tudo se renova, as coisas que a gente fazia e deixou de fazer devem ser substituídas por novas. Que deem prazer, de preferência.
Quando saí da presidência da AJURIS, senti que havia acabado um ciclo, não só porque ficara para trás um momento de intensa atividade política, mas também porque precisava me reinventar profissionalmente.
Como juiz, saía de um período de dez anos como substituto em Porto Alegre, e os últimos oito com jurisdições às quais sentia faltar uma inteireza: primeiro três anos de Plantão e três anos no Projeto Poupança, depois mais dois anos licenciado para presidir a Associação.
A única alternativa prazerosa à aposentadoria era voltar a ser ainda uma vez um juiz inteiro. Tive sorte, porque vivi com intensidade um ano de uma Vara de Família e depois, embora mudando a contragosto, segui inteiro numa outra jurisdição, Cível.
Mas não queria ser só juiz, precisava de mais alguma coisa, e foi aquela experiência de um ano na Família, vivendo inúmeras audiências e problemas humanos ao lado da Patrícia Cunha e da Cassandra Sibemberg Halpern, que me levou a escrever as historinhas.
Foi um livrinho singelo, pensado para usar nas minhas audiências, que ironicamente saiu da gráfica dias após eu ter deixado essa jurisdição. Quando, chegando um dia ao Fórum, encontrei o Ingo Sarlet e ele me cumprimentou pelo escrito, não pude deixar de lhe responder: cada um escreve o que sabe.
Mesmo assim, gostei da experiência e também do resultado. É bom quando ouço que uma criança leu e gostou ou que um pai leu as historinhas para a filha. A tiragem de sete mil exemplares significa que as historinhas chegaram mais longe do que imaginava. Claro: a maior parte foi distribuída gratuitamente, e conhecemos bem a história da injeção na testa, mas, ainda assim, e mesmo que às vezes os elogios não sejam mais que agrados ao amigo, acho que foi positiva a repercussão.
Além disso, foram as historinhas que me abriram caminho para uma parceria com a Orquestra Villa-Lobos, esse maravilhoso trabalho de educação musical na periferia.
No final de 2014, o projeto do livrinho estava pronto e a maior parte dos textos escrita. 2015 serviu mais para os ajustes finais e o acabamento. Mas, entrei neste ano ainda com a ideia da reinvenção, e decidi que ela passaria por escrever.
Já tivera uma experiência de blog, o Judiciário e Sociedade, em parceria com o Gilberto Schäfer e a Laura Fleck. Quando fui para a AJURIS, eles assumiram a bronca; quando saí, o Gilberto estava indo para a AJURIS e a Laura para a Corregedoria, e eles me devolveram a tarefa. Não assumi, e o blog morreu.
Na verdade, fazia tempo que eu pensava em outra coisa, mais autoral, e 2015 serviu para criar o Bissexto, onde publico as ideias que me vêm à telha, quando vêm. Então, depois das historinhas, o blog: 2015 foi o ano em que escrevi – e pretendo não parar.
Foi bom, publiquei perto de cem textos, e a maior parte foi lida por mais do que os 18 leitores que esperava. Evidentemente, não é um fenômeno de público, e o perfil no Facebook não chegou a 500 curtidas. O bom é que cheguei a esse ponto sem pagar um centavo para obter curtidas ou impulsionar a página.
Quanto à leitura dos textos, a contabilidade indica que chego ao final do ano com exatamente dez acessados por mais de 500 pessoas; três deles com mais de mil, e destes um com mais de dois mil acessos. Não sei quantos leram até o fim, mas o simples fato de terem sido dados os cliques indica que houve interesse na leitura. O resultado é positivo.
Então, se tiver de fazer um balanço do ano, que no mais foi muito bom, diria isso: 2015 foi o ano em que escrevi.
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Se alguém se interessar, segue a lista dos mais lidos, com os linques: Sim, acho que és; Audiência de custódia e violência policial; Sérgio Moro, figura pública; Somalis e haitianos; As historinhas; A pedalada; Impeachment?; Por que não usei o filtro tricolor; Uma foto de família; As falácias do Impeachment.
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