Mina da nossa miséria

De Getúlio a Dilma, atravessamos vários períodos de aposta no desenvolvimento nacional, não subordinado ao grande capital internacional, principalmente o americano. Não foi sempre um projeto de governos democráticos nem necessariamente de esquerda, basta ver que um dos pontos altos dessa política aconteceu no Governo Geisel.

Falar em desenvolvimento na segunda década do século XXI pode não gerar entusiasmo, principalmente entre os que percebem o quanto o conceito de crescimento fundado no PIB está na base da degradação ambiental do planeta, mas é certo que tais políticas tentavam dar ao Brasil um protagonismo econômico cuja possibilidade de realização foi fulminada a partir do golpe de 2016, com a entrega do governo a setores empenhados na subordinação ao capital internacional, principalmente americano.

Nosso repentino mergulho na subalternidade internacional, aguçada com a eleição da tão patética quanto sinistra figura que presta continência à bandeira dos Estados Unidos, produziu efeitos imediatos no âmbito econômico, como a entrega do petróleo e de indústrias de ponta, em que se destaca a Embraer.

Do mesmo modo, ficou consolidado nosso papel de produtor de commodities, com tudo o que isso significa em termos de relegação a país de segunda linha, sem ambição ao protagonismo.

Um dos efeitos mais evidentes de ocupar esse lugar de fornecedor de produtos primários aos países ricos é a aceleração da degradação ambiental, seja pela liberação recorde de agrotóxicos, seja pela expansão da fronteira agrícola, seja ainda pela ampliação desenfreada da mineração, tudo acompanhado da aceleração do desmatamento.

Já não temos um projeto nacional, e nossa produção está destinada ao consumo dos países ricos.

E é nisso que entra a Mina Guaíba, empreendimento ironicamente liderado por uma empresa da China, país que, após chegar ao topo da economia mundial produzindo muita poluição, hoje fecha suas próprias minas de carvão, esta fonte de energia do século XIX, para abrir minas nos países africanos e também no Brasil.

Ingressa a China no seleto grupo de países que se dá ao luxo de reduzir a poluição interna, terceirizando-a para os países subalternos. Não que isso altere alguma coisa em relação ao aquecimento global, porque o planeta é um só e seu aquecimento produzirá efeitos também planetários, mas, enquanto isso, a degradação do ar, da água e da terra se concentrará nos países miseráveis da periferia.

Países como o miserável Brasil da miserável Porto Alegre.

A foto é de Shanxi, capital da produção de carvão na China. Boa para ver o que nos espera.

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