Não a conhecia, não sei quem a matou, se foi polícia, se foi bandido. Ou se foi polícia-bandido.
Sei que era mulher, pobre, negra, bissexual (não sei em que ordem devo dizer). Faltou dizer: era favelada.
Veio da Maré, conseguiu bolsa para fazer curso superior, depois fez mestrado, virou vereadora.
E lutava.
Lutava aquelas lutas, Direitos Humanos, defesa da mulher favelada, contra a violência policial. Era contra a intervenção militar no Rio de Janeiro, intervenção que não serviu para protegê-la, como não protege os pobres da favela.
Marielle foi fuzilada.
Vinha do debate Mulheres negras movendo as estruturas. Lá terminou sua fala dizendo: Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas.
Saiu dali e morreu. Fuzilada.
Marielle não devia lutar, é perigoso. Não devia denunciar a polícia, não devia fazer política, não devia ter feito curso superior. Não devia nada disso. Devia ser doméstica, gari, alguma coisa assim, são profissões para mulheres negras faveladas. Prostituta, talvez. Mas, principalmente, devia ficar quieta.
Não, ela resolveu estudar e lutar. Não devia, é perigoso demais. No Brasil mais ainda. Não era esse seu lugar.
Fosse doméstica, respeitasse seu lugar, talvez estivesse viva.
Viva Marielle!
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