Lado A
A semana que terminou com Lula Livre havia iniciado com os megaleilões do pré-sal. Ao final fracassada, a tentativa de venda do filé do pré-sal foi mais um capítulo da política, iniciada logo após o golpe, de privatização e desnacionalização das maiores riquezas nacionais.
Sob esse aspecto, Bolsonaro apenas continua, e aprofunda, a política iniciada com Temer, num momento traumático da vida nacional, bem explicado por Naomi Klein como o momento encontrado pelo neoliberalismo predador para aplicar a doutrina do choque.
O pré-sal é emblemático dessa política, porque, enquanto numa ponta se entrega o patrimônio público às grandes petrolíferas, na outra se retira a destinação dos seus recursos à educação e saúde, bem de acordo com a pauta de encolhimento do Estado na sua função social.
Está aí o motivo pelo qual os liberais brasileiros, que, após patrocinarem o golpe, encolheram eleitoralmente e viram cair em seu colo a eleição de um candidato de extrema direita, praticam o jogo de morde-assopra com o governo miliciano: Guedes está lá para fazer o serviço.
O fracasso dos megaleilões foi uma derrota dessa política, uma batalha perdida, que temporariamente mantém com a União uma das nossas maiores riquezas. Mas foi só uma derrota temporária, de um governo que, se não desmanchar antes, ainda tem três anos para praticar suas maldades.
Lado B
Nesta mesma semana, as manchas de óleo, que já atingiram as praias de todos os estados do Nordeste, se ampliaram para a costa do Espírito Santo. Trata-se de uma catástrofe ambiental sem precedentes, que destrói vida marinha e contamina santuários naturais (nesse contexto, é até mesquinho falar dos prejuízos econômicos, principalmente ao turismo).
Até hoje, não há um diagnóstico sobre a origem da mancha, que vai desde a possibilidade de derramamento por um petroleiro, talvez um navio fantasma, dos que fazem transporte clandestino e navegam com o transponder desligado, até a hipótese mais assustadora de vazamento de um poço perfurado no fundo do mar.
Uma coisa é certa: há um alto risco envolvido na produção petrolífera, seja no seu transporte por petroleiros, seja na sua produção em alto-mar, e sempre haverá a possibilidade de derramamento em proporções gigantescas.
Mas, se nos impressionamos com as cenas do litoral nordestino, não podemos nos esquecer de que isso não é o que há de mais assustador: a contaminação da água marinha está longe do risco representado pelos gases de efeito estufa, principalmente aqueles que resultam da queima do combustível fóssil.
A concentração de carbono na atmosfera ultrapassou em 2016 o limite, antes considerado crítico, de 400 partes por milhão, volume que não havia acontecido nos últimos 3 milhões de anos. Como consequência, e porque todos os protocolos para reduzir a emissão dos gases são descumpridos, o aumento da temperatura do planeta acelera, já está perto de exceder um acréscimo de 1,5°C, e as expectativas atuais são de que chegará ao final do século com um acréscimo entre 3°C e 5°C, criando um ambiente inóspito, que causará a extinção em massa de espécies e tornará a vida quase impossível aos humanos em apenas duas gerações.
Daí me pergunto: como faríamos a discussão do Lado A se levássemos a sério o Lado B?
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