Foi bom pra ti?

Querem saber? Eu preferia ter escolhido outro momento para botar no meu perfil as cores do arco-íris. De fato, não me agrada comemorar desse modo uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, nem me agrada fazê-lo com a colaboração imprescindível do Facebook.

De fato, houve outros momentos que, para nós, brasileiros, eram mais adequados a essa comemoração. Vivemos mesmo, nós, periferia, voltados para o centro do mundo, e a tecnologia da comunicação instantânea contribui muito para isso. Foi o que aconteceu há alguns meses com o Je suis Charlie, quando no mesmo dia a Polícia Militar da Bahia matou vários jovens negros da periferia, sem maior repercussão no Brasil.


Mas, o fato é que não sou eu quem escolhe o momento de as coisas acontecerem. Já o Zuckerberg tem bem mais chance de obter sucesso quando decide alguma coisa, mas não pensem que qualquer coisa que ele queira estaremos nós clicando exatamente como ele pensou: precisa haver sintonia.

E digam: essa massiva manifestação do final de semana não aconteceu principalmente porque há uma multidão de brasileiros que está farta das pregações homofóbicas, que não aguenta mais Malafaia, Feliciano e gente dessa estirpe, que não aguenta mais o preconceito contra homossexuais?

Não se assustem os que sentem calafrios ao pensar na homossexualidade: aquele colorido todo não foi (só) do povo LGBT, foi principalmente dessa gente que quer viver num país em que as pessoas possam ser livres para viver do modo que lhes seja mais adequado sem serem importunados por brigadas das trevas.

Eu não planejei botar o arco-íris na minha foto, as pessoas não planejaram, mas aconteceu e foi bom, porque o Brasil viu que a causa tem um amplo apoio.

Compreendo quem não aderiu por resistência ao colonizador, por não querer se dobrar ao Facebook. Se foi só isso, acho mais do que normal: compreendo bem tudo o que é jurássico, porque também sou dinossauro. Mas, convenhamos, quem não pode curtir os direitos dos homossexuais em Cuba, acaba curtindo os dos Estados Unidos.

E sejamos claros: a capacidade de repercussão mundial de um fato desses acontecido nos Estados Unidos justifica a comemoração. Não esqueçamos que em muitos países do mundo ser homossexual ainda dá cadeia e até pena de morte, e a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos tem esse papel civilizador.

Bem, o fim-de-semana passou, a maior parte das pessoas voltou à cor de sempre, daqui a uns dias também troco minha foto, mas confesso: foi bom. Foi pra ti?

Pequena retificação de um escrevinhador desatento, que não altera sentido deste texto, nem o do anterior: o Facebook nos brindou com o arco-íris porque era o Dia Internacional do Orgulho Gay. De qualquer maneira, aconteceu dois dias depois da decisão da Suprema Corte, e não é mais que detalhe nas coisas que se discutem.

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Uma resposta

  1. Avatar de Naor Nemmen
    Naor Nemmen

    Dois textos essenciais para entender a psiquê doentia das pessoas “porque-não-vai-cuidar-das-criancinhas-abandonadas-ao-invés-de…?”
    > Texto da Dra. Sônia T. Felipe, filósofa
    Homo e transfobia disfarçadas de compaixão humanitária
    https://tinyurl.com/p4lve5q
    Texto do Dr. Pio G Dresch, juiz
    Foi bom pra ti?
    https://tinyurl.com/p8ky8s4
    Agora o meu textículo (com X, com X), com menos classe e menos letras:
    “Grita que eu deveria cuidar de criancinhas famintas ao invés de cuidar de animais abandonados mas não faz uma coisa nem outra, sequer cumprimenta o porteiro do prédio… Vá se tratar, doente mental!”

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