“Fulano disse que viu uma onça-parda.” Respondi na lata: duvido! E reforcei: duvido mesmo!
Meu amigo foi tirar a limpo com Fulano. Dias depois voltou com a confirmação: “Ele garante que viu. Até ouviu um miado.”
Segui cético: sabidamente, a população de onças pardas é muito reduzida, e são poucos os lugares do Rio Grande do Sul onde ela ainda pode ser encontrada. Além disso, não há notícia da sua presença na região.
Mas fiquei também com uma ponta de esperança. Nunca esqueci de que, quando uma câmera oculta flagrou uma no Parque de Itapuã, isso foi visto como um fato extraordinário. Dayse Rocha, administradora do parque, comemorou dizendo “é o topo da cadeia alimentar”. Essa frase soou para mim como a chegada ao grau máximo da recuperação ambiental. Eu não conhecia a Dayse, a notícia da suçuarana me fez procurá-la.
Foi o eco dessa frase, topo da cadeia alimentar, que bateu em mim, quando ouvi o comentário do avistamento.
Isso foi há dois meses. Como disse, permaneci cético. E esqueci.
Pois agora a história voltou a mil. Mais gente afirma que viu e apareceram duas novilhas abatidas para as bandas do Garambéu.
Alguém disse que é uma mãe com três filhotes. Áudio encaminhado com frequência diz que viram de longe os quatro bichos, um bem grandão. Viram só por trás, a bunda e o rabo bem compridão. “Eu vi o jeito de ele caminhar. No começo achamos que era os cachorros. Depois vi que ele caminha tudo meio desmanguelado. Vimos que era leão. Acho que leão baio e onça-parda é o mesmo bicho.”
Sigo duvidando, como São Tomé, mas a esperança cresce. O fato é que muitas lavouras foram abandonadas no topo dos morros, cedendo lugar para a recuperação da mata nativa. Mesmo os eucaliptos, que tanto enfeiam a paisagem, ajudam, ao comporem um mosaico com a mata nativa, na formação de corredores, que talvez hoje já possam acolher quem está no topo da cadeia alimentar.
Fico na expectativa. Enquanto isso, leio mensagem compartilhada: “Cuidem-se! Foi vista uma onça-parda em Cerro Grande do Sul.”
Penso: “sim, cuidem-se, mas a onça merece uma recepção mais amistosa.”
E completo: “Dona Onça, seja você real ou imaginária, sinta-se bem-vinda de volta ao seu lugar. E traga os filhos para conhecerem a cachoeira. Ficarei feliz.”
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* A onça da foto é da Dayse, em 2018.
** Sugestão aos governantes: como contrapartida à proteção aos animais selvagens, indenizem prejuízos por eles causados.
*** Nota de 22 de julho de 2024: surgiram informações de que quatro cães fila impostores se fizeram passar por onças. Segundo a notícia, foram devidamente identificados e presos.
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