Caro presidente Lula:
Há alguns meses sugeriram que as pessoas lhe mandassem cartas ou enviassem livros, como modo de fazer ver que há brasileiros que se preocupam com sua situação.
Pensei em escrever alguma coisa, mas não consegui: geralmente tenho dificuldade para pronunciar palavras de conforto e com certeza muitos escreveram linhas mais alentadas do que eu seria capaz.
A ideia me voltou algumas vezes, e certa feita pensei em lhe mandar um singelo livrinho que escrevi. Não serviria para contribuir para a sua profunda compreensão da realidade nacional, que para isso você tem muitas excelentes fontes, mas achei que poderia lhe agradar a ideia de um dia ler as historinhas para seus netos, que adorariam ver as belas ilustrações do Santiago.
Mas, sabe como é, a vida é um turbilhão, e acaba nos levando de roldão, sem que façamos as coisas que poderiam nos tornar mais humanos. O fato é que nunca enviei as historinhas, nem escrevi a dedicatória, que agora tento imaginar como poderia ter sido.
Eu as escrevi para dar a crianças que, sem terem onde ficar, acabavam acompanhando os pais ao Fórum, onde aguardavam no corredor as difíceis consequências da audiência de uma Vara de Família, vivendo o sofrimento do conflito e da separação.
Eram audiências diferentes daquelas que você viveu, mas, como essas, que o separaram de milhões de pessoas que o amam, deixavam em suspenso para cada uma dessas crianças o afeto e a esperança no futuro.
Me arrependo de não ter lhe mandado as historinhas. Provavelmente você nem as teria visto, perdidas entre milhares de cartas e livros, mas, como sempre dizem, o que vale é a intenção, e o presente teria sido de coração.
Hoje penso que você as poderia ter lido para Arthur. Claro, eu sei, está tão difícil deixarem você fazer qualquer coisa, e também não te deixariam mostrar o livrinho para ele, mas na minha imaginação eu fiz o que não fiz e eles permitiram o que não permitem.
Bem, você já não as lerá para Arthur, e, neste momento de dor, resta te dar um abraço no coração.
Que estas palavras sirvam de dedicatória para o livrinho que não enviei.
Prometo que o enviarei, para que possas ler aos outros netos.
Fica bem.
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