Fui visitar o Datafolha. Queria entender a pesquisa, compará-la com a anterior, ver o que mudou. Contemplei aqueles números espalhados em dezenas de laudas, não sei se os entendi bem, mas concluí que de dezembro a janeiro tudo continuou igual.
Geralmente, nada há de significativo quando as coisas continuam iguais: porque inércia não é acontecimento. Mas aqui, ao menos para os desavisados, havia algo que poderia parecer intrigante: como o candidato recém condenado mantinha a liderança poucos dias após o julgamento do século?
Na verdade, eu já vinha refletindo sobre a possibilidade de isso acontecer e tinha algumas hipóteses, que iam desde o “rouba mas faz”, que notabilizou Adhemar de Barros, talvez numa versão mais classista, de votar em alguém que melhorou a situação dos pobres, até a incredulidade em relação à acusação, provavelmente motivada por um misto de simpatia no personagem e descrença no sistema de justiça.
O fato é que “a lei é para todos”, frase dita no julgamento, ou sua versão “ninguém está acima da lei” dita por um candidato concorrente, cujo nome não passa incólume em notícias sobre favorecimentos ilícitos, não tiveram repercussão nas intenções de voto.
A pesquisa não dava pistas para entender o comportamento, e me mantive nas minhas hipóteses de que a intenção de voto se mantém estável porque há, entre os que o escolhem, uma maior valoração do seu compromisso político em relação a eventual deslize ético, sempre permeada de dúvidas sobre a veracidade da acusação.
Mas, ao me deter mais um pouco no Datafolha, vi outra pesquisa, feita há meio ano, e nela 92% dos brasileiros disseram acreditar que a Justiça brasileira trata melhor os ricos que os pobres.
Logo lembrei de Zaffaroni, que agora o partido dirigente argentino quer excluir da Corte Interamericana de Direitos Humanos, porque disse desejar o fim próximo do Governo Macri, que faz por lá o que o Governo Temer faz aqui: desnacionalização, reforma previdenciária, empobrecimento.
Zaffaroni, um dos maiores juristas vivos, diz que o Direito Penal é feito para os pobres e para os inimigos do sistema, entre os quais evidentemente estão os defensores dos pobres.
Ele não foi lido por 92% dos brasileiros, mas os brasileiros não precisam lê-lo para saberem que a polícia vai para a vila, mas não para o condomínio de luxo, sabem quem recebe e quem não recebe habeas corpus, sabem onde se criam e onde se abafam escândalos.
Pesquisas de opinião não costumam dar 92%, percentual para eleger ditador de partido único com voto aberto, e o que essa quase unanimidade disse foi que a lei não é igual para todos. Parte significativa dela pretende votar num candidato que não está acima da lei.
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