Governo dos sábios, conselho dos anciãos, senadores vitalícios: a história e o pensamento político sempre registraram e continuam a registrar, como ideia ou como prática, a existência de instâncias políticas total ou parcialmente compostas por critério de mérito pessoal, que pode ser sabedoria, experiência, honestidade.
De algum modo, carregava comigo a ideia de que os Tribunais de Contas eram assim. E pensava não só porque a Constituição estabelece que seus ministros tenham idoneidade moral e reputação ilibada, mas por um sentimento intuitivo de que é necessário ser muito honesto para julgar as contas dos outros.
Para mim, os Tribunais de Contas eram compostos por vestais, que zelavam pela moralidade pública. Aliás, mais do que isso, eram a própria encarnação da moralidade.
Claro que falo do passado, do tempo em que ainda não havia descoberto que invariavelmente são nomeados para compô-lo – e isso serve para os Tribunais de Contas dos Estados – políticos, em particular deputados com algum prestígio, que não querem mais se sujeitar à estressante maratona de se submeterem às urnas.
E devo esclarecer: nunca pensei que políticos sejam por definição desonestos. Pelo contrário, acho que a maioria é honesta e penso mesmo que é um desserviço à democracia essa pecha que lhes costumam imputar. Por isso, não veria problema se aqui e ali fosse nomeado ministro ou conselheiro um político em final de carreira, com largos serviços prestados à Nação.
O desencanto da minha descoberta não se situa na ideia de que políticos não possam ter idoneidade moral e reputação ilibada, mas no fato de que está longe de mim pensar que só nas casas legislativas possam ser encontradas pessoas com essas qualidades.
Daí concluí que havia outro critério, não escrito, uma norma consuetudinária supralegal, que se sobrepunha mesmo aos dois critérios morais mencionados para a indicação ao cargo: ser um político influente.
Foi uma decepção também porque parecia que das casas legislativas nos mandavam uma mensagem inversa àquela que lhes costuma ser dirigida: a de que só lá se encontram pessoas honestas, dignas de comporem aquela Corte.
Mesmo assim, até aí eu nem ao menos cogitava que os outros critérios pudessem ser negligenciados, e passei a acreditar que ministros e conselheiros de Tribunais de Contas eram ex-deputados reconhecidos por sua honestidade.
Mas, eis que, aqui e ali, começam a surgir rumores preocupantes. Ora ouço que o filho de um Ministro do TCU faz lobby na própria Corte, ora ouço que Ministro do TCU está envolvido na Operação Zelotes, ora ouço notícias de enriquecimentos repentinos e por aí vai.
Agora, já estou quase pensando que na verdade, para entrar no Tribunal de Contas, basta ser político influente, não sendo necessária a idoneidade moral e a conduta ilibada.
E talvez deva definitivamente arquivar minha ideia de Corte dos Virtuosos. Pena.
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A ilustração é Diógenes procura um homem honesto. Não sei se de Van Mol ou Rubens.
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