Colchões do bem

Parece que foi combinado, mas não foi.
Realizado o concerto da Orquestra Villa-Lobos, com uma bilheteria de R$ 9.360,00, valor que seria destinado à manutenção da Orquestra, e tendo esta decidido repassar metade para as vítimas da enchente, houve toda uma preocupação em maximizar o benefício e atender a quem efetivamente necessitava.
Chegou-se à Ilha Grande dos Marinheiros, cuja população foi diretamente atingida pela cheia. Baixadas as águas e com o retorno às casas, uma boa limpeza permitiu recuperar parte dos pertences, mas muitos foram perdidos Entre eles os colchões, que, molhados pelo rio, ficaram imprestáveis.
Mas colchão é uma coisa cara, e talvez não fosse possível prestar uma ajuda substancial com o valor disponível. Aí, com uma pesquisa básica, se chegou a uma fábrica de colchões que pratica preços baixos. Só que é uma fábrica pequena, que não tinha para pronta entrega.
Além disso, a entrega precisava ser agendada para data que não colidisse com apresentação da Orquestra ou com as atividades escolares.
Foi só por isso que, realizado o Concerto em 5 de novembro, a entrega dos colchões ficou para o dia 24, coincidindo com o Dia do Bem. Mas foi uma boa coincidência. A chamada para o Dia do Bem era instigante: “Que tal deixar a reclamação de lado e ser a mudança que você deseja por um dia? Um dia para sair do sofá e separar as roupas que não usa mais, um dia para pagar o café do morador de rua, um dia para fazer um mutirão e limpar a praça do bairro.”
A Orquestra Villa-Lobos fez mais que isso: ao invés de separar coisas que não usa mais, separou metade do seu cachê – que, sempre é bom lembrar, seria destinado para as próprias atividades da Orquestra – e lhe deu outro fim, o de fazer o bem em escala, como se fosse uma pirâmide do bem. Foram 15 colchões de casal e 14 de solteiro, entregues a pessoas cujas casas ficaram embaixo d’água por semanas. Pessoas que em outras enchentes se alojavam na Escola Alvarenga Peixoto, na própria Ilha, mas desta vez tiveram de ficar no Tesourinha, porque a própria Escola foi invadida pela água.
No depoimento dos integrantes da Orquestra, além do espírito de solidariedade manifesto nessa atitude, foi relatada também a percepção sensorial da necessidade de socorro, revelada quando, em deslocamento para a Fabrica de Gaiteiros em Barra do Ribeiro, ficaram consternados ao verem do ônibus as casas submersas.
A chamada para o Concerto era “Fazer a diferença faz bem”. Dizia com a diferença que cada um de nós poderia fazer ao apoiar a Orquestra Villa-Lobos, mas também com a diferença que a Orquestra vem fazendo há tanto tempo. A entrega desses colchões no Dia do Bem permite inverter a frase: fazer o bem faz diferença.

Na foto do Rodrigo Borba, Cecília Rheingantz Silveira, Felipe Fernando Alves Müller do Santos, Sabrina Silva de Castro e Thaís Andhala Carvalho Alves fazem a entrega dos colchões a Imaculada de Oliveira, da Cooperativa Mista Resgatando a Dignidade.

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