Confesso, estou ficando velho. Claro, dirás, falta pouco para pegares ônibus de graça e pagares meia no cinema. Mas não é disso que falo. Talvez esse processo de comemorar aniversários demais tenha me trazido uma certa dose de mau humor, ou mesmo me tornado conservador, como sói acontecer a quem envelhece. Ou, o que é mesmo mais provável, talvez sempre tenha sido conservador. Por isso, caro leitor, quando lês meus textos e concluis que sou meio comunista, não te iludas: sou o contrário do que pensas.
Mas tudo isso não faz diferença; o fato é que, embora defenda aqui bandeiras, digamos assim, progressistas e direitos de algumas categorias de oprimidos, sou um cara careta. Ouço Stravinsky, mas tenho alma de Brahms.
Por isso, cada vez mais torço o nariz para os anarquistas engraçadinhos, desses que gostam de fazer a crítica social por meio do deboche.
No âmbito jurídico, tem um tipo específico, que é o da doutrina do escracho. Como em qualquer meio social, a doutrina do escracho tem alguns gurus, esses caras que disseram as bobagens antes que todo mundo, e que os mais jovens fazem o máximo para superar. Isso é terrível, porque o modo de os mais jovens superarem seus gurus é dizerem bobagens maiores que as deles.
Confesso que não os leio muito, e não por causa do meu preconceito: na verdade, sou um operador jurídico atípico, desses que não leem sobre direito. Resumindo: um alienado. Mas, de vez em quando um texto deles bate nos meus olhos. Sabe como é: mesmo os velhos entram no Feice, os amigos compartilham e tu acaba lendo.
E devo admitir que de início gostei: o modo iconoclástico da doutrina do escracho não deixava pedra sobre pedra e desconstituía essa jurisdição conservadora e formal, da qual, contra minha vontade, sou um legítimo representante (Freud explica).
Mas lá pelo terceiro eu achei que a coisa estava meio repetitiva, e depois disso continuou se repetindo. Hoje li o 23º texto, tão escrachado quanto os 22 que o antecederam, e de novo tive essa sensação de déjà vu. Reli, porque achei que para alguma coisa ele haveria de me servir. Mas, não: fora o claro propósito de desconstrução, concluí que não sobrou nada, além, é claro, da minha vontade de escrever esta crítica.
Foi, usando uma palavra que provavelmente integre o léxico da doutrina do escracho, um onanismo.
Gente, quero dizer: vocês são brilhantes! Texto assim não é qualquer um que escreve! Mas, quem sabe, vocês não usam todo esse talento pra construir? Um pouco de ironia cai bem, o leitor se agrada, lê o texto até o fim, mas vocês não acham que, se dosarem a ironia e forem propositivos, somarão mais para o seu time?
É só uma ideia. E eu nem deveria falar, porque acho que sou do outro lado.
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