São caricaturas. Não sei se as recolhi caricaturas ou se caricaturas as tornei. Mas são caricaturas. Uma se regozija com o Facebook, por excluir perfis falsos do MBL; outra adverte quem se regozija, dizendo não se iludam, é só um ensaio para excluir a esquerda.
Conheço bem o poder do Facebook. Se espero que 200 pessoas leiam este texto, sei que não mais que 20 delas o lerão sem o terem acessado pelo Facebook.
Faz tempo que reflito sobre isso. Sei que dependo desse canal e, se não contar com ele, não me comunicarei com o mundo. Talvez não continue assim por muito tempo, talvez logo inventem outra rede mais atraente, mesmo porque o mundo das redes sociais é fluido.
Mas hoje o Facebook tem esse poder e pode, se quiser, me tornar invisível. Basta decidir me excluir. Por que me submeto a isso? Simples: não existe alternativa.
Outra caricatura, dita com ironia, foi essa: o Facebook é uma empresa privada, por isso pode fazer o que quer. É caricata a afirmação, usada como provocação ao discurso liberal do MBL, porque joga com essa possibilidade de o Facebook agir discricionariamente, nessa posição de poder quase ilimitado obtido graças ao domínio dessa rede, embora qualquer ideia minimamente democrática sobre o uso da internet devesse submetê-lo a controle social.
Se me perguntassem, eu responderia que Zuckerberg não tem o direito de me excluir do Face, porque a rede por ele criada é pública, e não privada. Se é que entendem o que quero dizer com público.
Mesmo assim, é evidente que ele pode fazer isso. Com a desculpa do pleonasmo, pode porque tem poder. Aliás, é um poder muito próximo de tantas distopias futuristas, e das quais tenho muito medo, porque o poder dele é o de nos levar ao pensamento único, ou de nos levar a um simulacro de consciência em que achamos que pensamos por nós, embora apenas reflitamos o pensamento posto.
Ele vai fazer isso? Tem o controle do processo? Não sei, às vezes parece que não. Nas eleições dos Estados Unidos, por exemplo, o Facebook foi enganado com a criação de bolhas a favor da campanha de Trump, aparentemente decisivas para que ao final fosse eleito.
Zuckerberg queria isso? Evidente que não. Aliás, desconfio que ele votou na Hillary. Mas não queria não só por isso: não queria porque é desastroso para a credibilidade do Facebook, para a sua imagem de veículo neutro e, principalmente, para seu prestígio, medido em cifrões.
Para o Facebook, é vital proteger-se contra esse tipo de manipulação, sob pena de cair no descrédito, com tudo o mais que dele deriva.
Por isso, se, numa eleição de importância mundial como a que se avizinha no Brasil, não tomasse medidas contra as contas falsas criadas pelo MBL, por demais conhecidas de todos e já escancaradas por investigações independentes, estaria sendo muito mais que conivente com a manipulação de corações e mentes: estaria repetindo o seu fracasso no episódio eleitoral americano e dando mais um passo na sua perda de credibilidade.
Ademais, a vocação para instrumento de dominação de mentes – e de modo muito mais suave – é dele próprio, e admitir que outros o façam, utilizando-se de artifícios que enganam seus próprios mecanismos de controle, não pode ser tolerado.
De minha parte, saúdo a decisão de Mark, porque Kim o usava para fazer de modo mais ostensivo o que só pode ser feito de modo velado: os falsos perfis do MBL, que deliberadamente espalhavam notícias falsas, nesse processo cada vez mais perigoso de fazer mentes infantilizadas aceitarem como verdade as empulhações mais absurdas, tinham que ser excluídos por qualquer critério democrático que se utilizasse.
Mark o fez por motivos nobres? Certamente não, embora deva reconhecer que ele em nada se parece com o tipo troglodita da pior direita brasileira, criado à imagem da pior direita americana.
Também por isso, considero caricatural o pensamento de que a censura ao MBL é apenas um ensaio para tirar do ar perfis de esquerda.
Não ponho a mão no fogo por Mark, mas o que ele fez com o MBL tem uma motivação outra e bem compreensível. Se vier a tirar do ar perfis de caráter crítico, isso será outro movimento, sem relação com a necessidade de preservação do Facebook. Nesse caso, se desvelará o que deve permanecer velado, e é por isso que não acredito que o fará.
Por isso, de minha parte, acho que por muito tempo meus 200 leitores continuarão a me acessar preferencialmente pelo Facebook.
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Dois minutos depois de este texto ser compartilhado no Facebook, recebi a mensagem de que fora removido por suspeita de spam. Desconfio que tenha sido porque o ilustrei com a logo do próprio Facebook. Para ver se é isso, e porque lembrei que na época da censura alguns jornais publicavam receitas de bolo no lugar das notícias censuradas, substituí a imagem por uma de bolo.
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