O clima de 2018

Paira no ar um clima de confronto direita x esquerda nas eleições de 2018. Dita assim solta, a frase é quase um truísmo porque não houve, desde o fim da Ditadura, eleição presidencial que não tivesse, ao final, oposto candidaturas de direita e de esquerda.

Assim foi em 1989, com Collor e Lula, em 1994 e, mesmo sem segundo turno, em 1998, com FHC e Lula, e nas quatro eleições seguintes, entre candidatos do PT e PSDB. Ainda que a alusão do nome do PSDB à social-democracia lhe desse no início um certo verniz de esquerda, sua aliança com o antigo PFL e as políticas privatistas de FHC logo mostraram seu lugar de fato no espectro político, bem simbolizado no “esqueçam o que escrevi”.

Então, se sete eleições foram em última instância decididas entre uma candidatura de direita e outra de esquerda, não haveria, de fato, muito sentido em prever, como se fosse novidade, semelhante quadro para 2018.

Mas agora parece que as coisas estão postas de outro modo.

Talvez com a exceção de 1989, em que o segundo turno enfatizou essa polarização, inclusive com a presença marcante de Brizola, nas eleições seguintes ela ficou mais diluída, por conta da guinada programática do PT e do Lulinha paz e amor, que amornou a militância de esquerda nos anos de governo petista.

A mobilização da esquerda no segundo turno de 2014 foi uma reação quase desesperada ao avanço direitista, mas o início do segundo governo Dilma, com sua opção por uma política econômica conservadora, levou a uma desmobilização ainda maior, apenas interrompida quando ficou evidente a marcha do golpe, que ensejou nova articulação, agora em defesa da democracia e da legitimidade do mandato.

Somente a partir dessa sucessão de acontecimentos iniciada em 2015, em que, revelando seu desprezo pela democracia, a direita nacional, amparada na mídia golpista e na articulação da classe média conservadora, protagonizou o golpe e pôs em marcha uma agressiva política de privatizações, entrega do patrimônio nacional e retirada de direitos, que finalmente houve uma reação da esquerda, agora reagrupada, embora ainda de modo incipiente, como não acontecia desde o momento em que a contrariedade às políticas lulistas levou à fundação do PSOL.

Paralelamente a esse processo, a própria sociedade brasileira se mobilizou, e, primeiro a direita e depois a esquerda, esta num efeito colateral indesejado do golpe, começaram a disputar corações e mentes neste dramático quadro de golpe e perdas de direitos.

O fato é que o golpe de 2016, a prisão de Lula e as políticas antipopulares do governo Temer fermentaram um reagrupamento da esquerda, amparado numa mobilização social inédita nos anos recentes, que, com ou sem Lula candidato, poderá galvanizar a disputa com um candidato conservador, seja ele um político tradicional, tipo Alckmin, seja a eterna Marina, seja uma invenção midiática, como Hulk, ou até mesmo Bolsonaro, de quem tentarão se livrar antes, mas que servirá como opção desesperada, se ninguém mais emplacar.

Nesse espectro pode entrar até mesmo o último novo do pedaço, Joaquim Barbosa, cuja imprevisibilidade não tranquiliza ninguém, seja na direita, seja na esquerda.

O fato é que há muito a ser perdido, e a esquerda sabe disso. Um governo conservador, que, ao contrário de Temer, tenha a legitimidade das urnas e quatro anos para implantar seu programa, com o apoio de um Congresso que certamente manterá, ainda que com menos força, esse perfil que combina conservadorismo e fisiologismo, fará terra arrasada das conquistas civilizatórias de 1988.

É cedo para saber se haverá algum tipo de união ainda no primeiro turno, no qual, por cálculos de sobrevivência partidária, a tendência é sempre que se mantenham candidaturas próprias (o problema é saber administrar as candidaturas na hipótese de se desenhar uma exclusão total do segundo turno).

De qualquer maneira, o que paira no ar é isso: com ou sem Lula, as eleições presidenciais de 2018 prometem refletir, como não aconteceu nas eleições anteriores, uma polarização programática entre direita e esquerda.

E as consequências do resultado para os próximos anos serão dramáticas.

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