O suiriri chegou, ouvi agora!
Corro para as boas-vindas e olho, da beira da varanda: ninguém nos fios de luz.
Estico o pescoço, com ele o olhar: três ou quatro canários nervosos de todo dia.
Não posso ter me enganado, o canto era esse mesmo.
Ou me enganei?
De início, o via no verão, e no inverno esquecia da sua existência. Até que numa manhã de primavera ele dizia: estou aqui!
E todos os anos faz isso, de volta da sua viagem à Amazônia (pouco depois vem a tesourinha, sua prima e companheira de fio).
Por isso, agora o espero, preocupado, porque é ardente o destino. Aqui eu sei que ele fica bem e feliz, mas lá, como será? Não queimará, não morrerá de morte matada? Sobreviverá à viagem?
É o que também me pergunto sobre a tesourinha. E sobre os donos das vozes noturnas, o urutau lá do fundo do mato, o joão-corta-pau, que me assusta na frente da janela no verão e voa para o pantanal no inverno.
Mas é cedo, estamos em agosto, e a preocupação deve estar me fazendo ouvir vozes, digo, cantos. Todos hão de voltar, e logo, logo, o suiriri me dará bom dia.
Enquanto isso não acontece, sigo na companhia das aves que aqui ficaram, pensamentos encobertos pela fumaça amazônica.
E erro (acerto?) a letra ao recordar da canção: voa, bicudo/voa, sanhaço/vai juriti/bico calado/muito cuidado/que o Agro vem aí.
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*A imagem foi retirada de Aves catarinenses.
* Nota da manhã de domingo, 1º de setembro. Ouvi de novo, olhei, e não era o suiriri. Daí me dei conta do erro do ornitólogo diletante: quem cantava era a risadinha, que fica aqui o ano inteiro, e não corre o risco de ser apanhada por nenhum incêndio.
* Voltou hoje, 16 de outubro! Nenhum incêndio o atingiu! Mais um verão com sua companhia (o joão-corta-pau já estava aqui há um mês).
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