Mês: março 2016

  • O triste fim do perplexo marciano

    Não sei quem a inventou, mas aquela imagem do viajante marciano que chega à Terra e se espanta com o que aqui acontece é genial. Conseguiu, quem a teve, criar uma possibilidade perfeita de crônica das nossas incoerências, a partir de um personagem que, por nada saber de nós, se espanta e, a partir de…

  • Palavras

    Uma vez, na Argentina, em Cosquin, vários anos antes do golpe de 24 de março de 1976, e já em contexto repressivo, tentaram proibir Jorge Cafrune de cantar Zamba de mi esperanza. Condensei a frase de Demétrio Xavier, que esta semana evocou a Ditadura Militar argentina, no seu excelente Cantos do Sul da Terra. Segue…

  • O brinde

    A gente andava falando de lado, olhando pro chão. Amuados, sufocados em dúvidas, num mundo tão cheio de certezas. Nos sentíamos sós e não nos víamos; só víamos aquela multidão que marchava agressiva, a multidão que nos oprimia e encolhia.

  • A catequese

    Fiz a primeira comunhão aos sete anos. Na catequese, tivemos as primeiras noções sistematizadas dos desígnios divinos, e a parte que para mim teve mais interesse – por isso nunca a esqueci – foi a confissão. Ela era, de fato, essencial, porque já tínhamos plena noção do quão terrível era queimar por toda a eternidade…

  • O espelho

    Uma das primeiras visões matinais é a do nosso reflexo no espelho. Nos miramos e nos reconhecemos, dia após dia, sempre iguais. E nos reconhecemos justamente porque permanecemos iguais. O rosto roto por uma noite mal dormida, as olheiras da farra noturna, o cabelo desalinhado ou a espinha intrusa são pequenos acidentes que não se…